sábado, 11 de dezembro de 2010

Mister Deni Sto

Estava fazendo geleia de amoras para minha refeição matinal após ter meditado.

Pegava um prato de porcelana branca do meu armário quando lancei meu olhar pela janela e pude contemplar a magnitude daquele nascer do sol  por trás das montanhas, com nuvens rosadas, lilases e um toque suavemente dourado.
 Respirei fundo aquela energia pura carregada de vitalidade que entrava pela minha janela trazendo uma brisa suave que balançava minhas alvas e leves cortinas. Esse ar ainda úmido do orvalho noturno aos poucos tomou conta de toda a minha cozinha e então pensei:

"Parece uma pintura! Que Divino! Que bom que o Destino me colocou aqui..."
Neste momento o vento soprou mais forte ao ouvido. Fui ver à porta... Lá estava ele. Altivo... ainda não aparentando sua verdadeira idade, mas já com alguns fios brancos a amostra. Como sempre muito educado e formal. Desta vez carregava uma mala menor e uma capa laranja no braço direito. Como era grossa deduzi que vinha de um lugar muito frio. Afinal, nesta época do ano é comum nevar em muitos países.

Entramos sem demora. Como sempre Deni (já me dava o direito da informalidade)  preferiu ficar ali mesmo na cozinha. Sentou-se no mesmo lugar de sempre. Tomamos a refeição matinal juntos. Adorou a geleia! Que por acaso era a sua favorita. Ao finalizarmos trouxe-lhe o chá (casca de laranja com canela e mel). Virando as cadeiras para fora da mesa, frente a frente, de canecas nas mãos, levando sua cadeira para trás - como uma cadeira de balanço - Mister Deni Sto começou a falar:

" Querida (sempre me chamou assim), tenho andado muito por este mundo e estado com muitas pessoas." Eu o contemplava com um sorriso receptivo aos olhos e boca. " E fico cada vez mais embasbacado com o desconhecimento das pessoas sobre o Destino. Têm todos um olhar tão fatalista sobre a vida, como se estivesse lá tudo pronto e alheio a sua vontade, como se esse lhes fosse impossível modificar e ainda pior como se não tivessem nenhuma, N E M  U M A  M E S M O (bem devagar) responsabilidade sobre ele.

Você sabe minha cara, o destino é construído como reação as ações de um passado longínquo que equivale ao primeiro sopro de vida em nossa alma nesse mundo. Não somos o que somos, nem vivenciamos o que vivenciamos apenas por nossa vida presente, e sim por toda uma história vivida por tanto tempo que nossa mente nem consegue alcançar. Só assim de posse deste conhecimento poderei me apresentar e dizer quem sou na verdade.

Afinal nascemos dentro de determinada constituição astrológica porque nossa alma evoluiu até este ponto e assim o necessita.

Se todos experimentam a impressão de que há uma energia da qual não temos controle regendo nossas vidas, traçando nosso destino, ela é real, porém não é fatalista, só a percebemos assim porque ser uma energia que mora nos recondidos de nosso inconsciente mais profundo. Há minha querida...(pausa) Olhando para a caneca de chá como se fitasse algo ainda mais distante."

Então depois de algum tempo pela primeira vez me veio a fala..."Tome seu chá Mister D. Fiquemos felizes! Pois sabemos onde se encontra o nosso Destino." (Risos soltos no ar) Bebeu do chá e sorrindo olhou pela janela recostando-se na cadeira.

E o vento balançou as cortinas...