segunda-feira, 7 de março de 2011

Uma Visita do Tempo



Ele sempre vinha logo que o ano novo se iniciava, mas desta vez nem sinal de sua existência, nem um minúsculo grão de poeira que indicasse sua chegada. E já estamos saindo, do que se pode chamar, início do mês de março.

Estava preparando a terra para plantar algumas sementes, em minha pequena horta, quando o fim deste pensamento passou em minha mente. De repente tudo parou a minha volta... O vento e tudo o que se movia, tudo estava extremamente parado, pa-ra-li-za-do. O sino na minha porta, não tocou desta vez, mas esta presença gigantescamente forte eu já conhecia. Sim sem dúvidas ele havia chegado.

CRONOS o Deus do Tempo, já estava sentado em meu sofá quando cheguei na sala. Trasia seu cajado e ampulheta nas mãos. Não aparentava cansaço nem apatia apesar da idade avançadíssima. Ao contrário tinha ainda mais força e presença. Fitava o chão numa espécie de estado meditativo do qual não me atrevi a tirá-lo. Fiquei ali, em pé, parada, apenas aquela imensa presença de força, beleza e experiência repousava em meu sofá.

Quando me fitou cheguei a estremesser arqueando levemente meu corpo para tráz como num susto. Num gesto convidou-me a sentar no chão a sua frente. O que fiz prontamente sem pestanejar.

Cronos nunca falava muito, mas sempre me dava um norte, a despeito de como correriam as linhas do meu ano. Por isto me esforçava em aproveitar ao máximo o pouco que proferia.

"Seu ano será trabalhoso do início ao fim. Não é ainda o momento de descanço, nem o de colheita e sim o tempo de cuidar daquilo que foi plantado. Terás conflitos emocionais contigo e com os outros e terás que extinguir muitos sentimentos indesejados para que volte a se sentir bem consigo mesma. Os amigos mudarão, assim como sua casa. Seu trabalho fluirá onde quer que estejas e seus filhos a amarão ainda mais. Com seus 36 anos completos terminará o ano mais segura de si e compreenderá o motivo que a fez optar por estas escolhas".

Assim como o vento, levantou-se e quase saindo pela porta, olhou ainda para trás e disse: "E por favor não entre neste frenesi de que o mundo irá acabar, você não deve se deixar influenciar por isto. Quando fizer 36 anos passarei por aqui novamente."

E como uma aparição fantasmagórica foi embora. E tudo voltou a ter movimento. Sempre que Cronos aparece abre-se um vórtice no tempo.

Eu, pasma, embasbacada, meio trêmula levantei-me e fui ao fogão fazer uma xícara de chá. Desta vez era eu que precisava beber. Folha de Laranja, alecrim e canela com um pouco de mascavo, pareceram ser o melhor no momento.

Não sei se um dia vou me acostumar com sua poderosa presença. Mas por outro lado sentia alivio pois agora meu ano estava pronto para começar. Nada de novo acontece em minha vida antes que CRONOS venha me visitar.


É a inevitável passagem do tempo engolindo a tudo e a todos para a ´tão necessária renovação.